Como amplamente esperado, no fim de janeiro (mesma data da reunião do Fed, como colocamos acima) o COPOM cortou os juros em 0,50% pela quinta vez consecutiva, colocando a SELIC em 11,25%. Era esperado que a decisão fosse unânime, o que de fato ocorreu ainda que alguns analistas apontassem para a chance de alguma indicação que os cortes pudessem acelerar para 0,75%.
De fato, especialistas divergem nas expectativas de quantas reuniões de queda ainda devem se seguir este ano. Devemos ter ainda mais pelo menos 2 cortes na mesma intensidade nas próximas reuniões, uma vez que os membros do Bacen têm enfatizado que os dados econômicos estavam em linha com as expectativas até o fim de 2023. Mas com mercado de trabalho ainda apertado, inclusive com os últimos dados surpreendendo positivamente, quando vimos a taxa de desemprego caindo para 7,4% no fim do ano (dado que foi apenas divulgado em fevereiro), nos colocamos a questão se a inflação de serviços vai seguir em queda. E com isso, somando-se às preocupações fiscais notadas pelo Banco Central em suas comunicações, e a nossa expectativa na Traad de que os juros nos EUA demorem mais a cair (sendo que esse fator, o início dos cortes de juros nos EUA, era apontado pela maioria dos gestores e economistas que projetavam a aceleração dos cortes por aqui), acreditamos que não há mais chance de quedas de 0,75% nesse ciclo de cortes atual, salvo surpresas de crescimento muito negativas, que levem a inflação a cair bem mais do que projetado atualmente.
Sobre a inflação, o IPCA de janeiro veio levemente acima das expectativas de mercado, em parte por conta da alimentação no domicílio, que vem sendo impactada pelo El Niño e pela entressafra. No entanto, embora há um mês, muitos economistas apontassem risco desses fatores contribuírem para um IPCA perigosamente próximo da meta ou até acima, atualmente já se espera que o impacto altista nos preços seja mais comedido – assim como se espera que o impacto sobre o volume produzido não seja tão negativo. Ou seja, o agronegócio não deve ajudar o PIB nem perto do que contribuiu ano passado, mas a magnitude dessa piora já não é mais tão drástica.
Isso posto, fica claro que o baixo crescimento da produtividade nos setores de serviços e indústria impede ganhos da renda do trabalhador médio mais estruturais entre estes setores. De fato, a produtividade no agronegócio mais que triplicou nos últimos 20 anos. O Brasil, aparentemente, se especializa cada vez mais na exportação de commodities, especialmente as agrícolas (embora o petróleo tenha ajudado na composição da forte balança comercial, e deva seguir ajudando nos próximos anos). No mais, e apesar do bom número do desemprego citado, os dados de atividade divulgados em janeiro reforçaram a desaceleração da economia brasileira em curso ao fim de 2023. Finalmente, no mês passado o governo anunciou programa de fomento a indústria nacional, que embora necessário, se apoia em medidas (conteúdo nacional, subsídios de crédito, etc) que já tentados no passado, pouco fizeram para reverter a tendência de desindustrialização que ocorre há duas décadas. Assim, apesar das perspectivas do PIB brasileiro para 2024 dos economistas seguirem melhorando, o mercado renovou preocupações com a saúde das contas públicas nacionais, e nossa bolsa de valores registrou queda em janeiro.
Em suma, para 2024, provavelmente teremos menos impulso dos gastos do governo e do agronegócio, e portanto, espera-se alguma desaceleração da atividade – e também da inflação, que fechou em 4,6% no ano passado, porém com os riscos apontados, possivelmente o IPCA termine este ano acima dos 3,8% sendo projetados ao fim de janeiro (vide tabela abaixo).