No final de janeiro, o Fed realizou sua reunião mais recente, e o presidente do banco, Jerome Powell, afirmou que os cortes de juros provavelmente não começariam na reunião de março, que era o consenso do mercado até então. Isto fez com que diversos mercados financeiros (desde juros até bolsa e moeda) se ajustassem, já que os preços de mercado incorporavam anteriormente uma alta probabilidade de cortes de juros a partir de março. Concordamos com especialistas que afirmam que a inflação global deva continuar baixando no mundo, em particular nos países desenvolvidos, no primeiro semestre. Inclusive, esperamos que chegue aos 2% este ano nos EUA, e dependendo da medida de inflação, talvez gravite um pouco abaixo disso. Porém, notamos que muitos experts e economistas acreditam que a inflação americana seguiria cada vez mais baixa no acumulado de 12 meses, simplesmente pois anualizavam os dados mais recentes, mas a tendência recente nem sempre prevalece num horizonte de tempo um pouco mais longo. Se por um lado também vemos que Inflação nos EUA vai continuar caindo a ponto de permitir que o Banco Central americano reduza os juros finalmente em meados deste ano, por outro vemos ainda pressões inflacionárias no mercado de trabalho, e uma economia desacelerando apenas muito devagar. Com uma maior persistência da inflação nos EUA, acreditamos que há potencial do primeiro corte de juros ser postergado inclusive para além de junho, embora reconheçamos que seja muito difícil acertar o momento exato.
Os mercados acionários dos EUA, da Europa e do Japão subiram em janeiro, mas nos EUA desaceleraram no final do mês devido aos comentários do Fed. O Banco Central Europeu e o Banco Central do Japão reafirmaram a relevância dos dados no curto prazo para ditarem a direção da taxa de juros nestes locais. Na Europa, os dados de dezembro confirmaram o cenário do médio prazo e que a inflação ainda está acima da meta e, por isso, a taxa de juros deverá seguir nos níveis atuais por tempo “suficientemente” longo. Porém, mais recentemente foram divulgados novos dados ressaltando a desaceleração da atividade, ou até recessão, em curso em parte relevante do mundo desenvolvido, claramente excluindo os EUA.
Em janeiro, a China anunciou uma série de medidas para incentivar a economia e os mercados, desde um fundo de estabilização que investiria em ações em queda até um corte na reserva dos bancos, a parcela dos depósitos bancários que deve ficar parada no Banco Central, acenando para vontade política de impulsionar a economia via expansão do crédito. Apesar disso, é difícil dizer que a China conseguirá superar os desafios para manter o crescimento ao redor de 5% ao ano, como os dados oficiais afirmam – ainda que muitos no mercado suspeitem que o crescimento real seja ainda abaixo do divulgado, especialmente no pós pandemia. Além disso, não há coordenação para apoiar o setor imobiliário, que mantém uma dinâmica de contração, e analistas ocidentais, mesmo das grandes casas de pesquisa e bancos globais, reconhecem sua baixa capacidade de projetar se estamos de fato diante do início de um processo de ajustes que poderia inclusive levar a recessão na China. Isso se dá no contexto em que se discute se uma recessão já seria sentida com um crescimento de 2-3%, e não apenas com PIB negativo, como no resto do mundo, dada a ainda imensa importância do setor externo na economia chinesa, e da dificuldade de se medir o impacto real das mudanças no mercado de trabalho nos últimos anos (migração interna, tendência de governos locais de reportar dados exagerados na busca por promoções, etc). Assim notamos que investidores globais estão bastante cautelosos com os riscos econômicos (e também geopolíticos) advindos da China.