NOVEMBRO 2024

Eleições no EUA 2024: Uma análise econômica

Equipe TRAAD

       A proposta de Trump para um segundo mandato nos EUA inclui temas polêmicos, como a deportação em massa de imigrantes, subsídios à indústria americana e, talvez o mais discutido (e temido) pelos governos globais, o aumento de tarifas de importação. Este aumento deve se concentrar “contra” a China, mas pode afetar outros países, com a possibilidade de uma tarifa geral de 10% sobre todas as importações dos EUA. Esse cenário torna-se mais provável à medida que se consolida a perspectiva de uma "onda republicana" (republican sweep), com controle da presidência, do Senado e, possivelmente, da Câmara.

    O consenso é que, em termos de comércio exterior, um novo governo Trump seria desfavorável ao Brasil. No entanto, alguns analistas veem uma possível vantagem para o agronegócio brasileiro, já que a crescente distância entre EUA e China pode levar os chineses a aumentarem suas compras de alimentos do Brasil (alimentos representaram quase um quarto das exportações americanas para a China no ano passado, com uma média de US$35 bilhões nos últimos dois anos).

    Além disso, o mercado prevê que uma nova presidência de Trump poderia gerar mais inflação nos EUA, com tarifas sobre importações, cortes de impostos que aumentariam a renda disponível, e escassez de mão de obra em alguns setores devido à deportação, elevando os salários médios. Também se espera maior déficit fiscal, com a queda nos impostos pessoais e corporativos possivelmente não sendo compensada por aumento relevante nas receitas (similar ao histórico dos cortes de impostos de George W. Bush nos anos 2000, que não geraram grande impacto econômico). Esse cenário poderia pressionar os juros, tanto de curto quanto de longo prazo.

    Com a alta dos juros de títulos do Tesouro de longo prazo (10 anos ou mais), esses títulos se tornariam ainda mais atraentes no cenário internacional, incentivando a compra de dólares para alocação nessas treasuries, que são vistas globalmente como referência de liquidez e segurança. Além disso, as tarifas planejadas para importações americanas podem levar outros países a desvalorizarem suas moedas para preservar a competitividade de suas exportações, o que poderia agravar a desaceleração do crescimento econômico global.

     No entanto, há discussões sobre a possibilidade de que essa força do dólar seja efêmera, mesmo com juros mais altos das treasuries. Essa alta poderia, afinal, ser motivada por uma desconfiança na capacidade dos EUA de honrar suas dívidas sem gerar inflação consistentemente elevada. Além disso, uma economia mais fechada, como a proposta por Trump, tende a crescer menos, o que também pode enfraquecer o dólar. Vale notar que a Europa pode ter uma ligeira recuperação no próximo ano, com juros em queda e melhora no crescimento da Alemanha após dois anos fracos. Assim, a euforia em torno de um dólar forte com um novo governo Trump pode ser de curta duração, talvez sustentando-se apenas na primeira metade do mandato.

   No que se refere ao Brasil e ao desempenho do real, vale destacar que, coincidentemente, nesta semana o mercado espera ansiosamente o anúncio de um pacote de cortes de gastos para os próximos anos, pelo ministro Haddad. Caso o pacote contenha medidas estruturais sólidas e cronogramas factíveis, pode acalmar o mercado. Porém, se o pacote trouxer apenas medidas superficiais, como combate a desperdícios e fraudes, sem ajustes estruturais concretos, o dólar pode ultrapassar a barreira dos R$6 até o fim do ano. Um pacote bem comunicado, estruturado e crível, mesmo enfrentando resistência dentro do próprio PT, poderia, ao contrário, estabilizar ou até reverter parcialmente a recente alta dos juros futuros e do dólar.

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